Notícia
Cordelteca do CERES é tema do Boletim Especial da UFRN Número 77 Natal-RN, quarta-feira, 30 de novembro de 2016
30/11/2016
Por Wilson Galvão
Universidade, sociedade, liberdade; cordel, cotidiano, conhecimento. Ao encadeamento dos substantivos nas mãos de um poeta cordelista sucede uma sequência de versos declamados melodiosamente em torno de um eixo inerente à leitura do autor sobre a cultura e o cotidiano. Condensar esse conhecimento em um só espaço, ao mesmo tempo valorizando-o, moveu à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) criar a sua primeira Cordelteca, na unidade do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), na cidade de Caicó.
A iniciativa integra a I Jornada de História dos Sertões, cuja programação segue até o dia 14 de dezembro. A Jornada faz parte de um evento maior, o projeto "História dos Sertões do Rio Grande do Norte e Paraíba", aprovado no Edital 01-2016 – PPG-PROPESq da UFRN. Ao falar sobre a importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias regionais, a diretora do CERES, Sandra Kelly de Araújo, enfatizou que “a Cordelteca tem a marca da cultura seridoense, pois o cordel tem uma forte tradição como expressão popular na região”.
Inaugurada no dia 24 de novembro, a Cordelteca da UFRN é a 45ª do país, ocupa espaço no Laboratório do Curso de História do CERES e recebeu o nome do poeta e radialista Djalma Mota, locutor do Programa Violeiros do Seridó, da Rádio Rural de Caicó. O homenageado endossou a singularidade destacado por Sandra Kelly ao colocar, que apesar da influência, sobretudo portuguesa, o cordel é considerado típico do Brasil e ingrediente inerente à cultura da Região Seridó dos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
Para os pesquisadores o cordel foi no passado um meio para a alfabetização devido às dificuldades para acesso a educação no meio rural |
Emocionado pela distinção, Djalma Mota falou do cordel como instrumento de alfabetização, como arte para registro histórico baseado em testemunho da história e como uma vertente literária com um viés de entretenimento.“O cordel foi no tempo passado um meio para o aprendizado em virtude das dificuldades que se tinha, no meio rural, para acesso à educação. Focado muito para o meio rural, serviu muito para ensinar, sendo utilizado como instrumento de aprendizagem por nossos antepassados. Muitos deles tiveram o primeiro contato com as letras por meio desse tipo de literatura, pois gostavam de ouvir os jograis”.
Ele destaca ainda que nesse processo o poeta brasileiro, ao começar a criar suas próprias histórias, começou a escrever sobre a realidade do seu meio e as suas descrições passaram a embasar documentos históricos, reportagens futuras. Por outro lado, acrescenta, devemos observar que “ no cordel, também, está presente a questão da ficção, do exagero, pois são contos através da forma típica do cordel, com uma estrutura de métricas, rima, o próprio contexto da oração, bem particulares ao cordel, muitas vezes declamados”.
A Cordelteca é fruto de um projeto de extensão "Constituição da Cordelteca da UFRN Poeta Djalma Mota", coordenado pelos professores Joel Andrade e Lourival Andrade Júnior, este último, inclusive, realizou estudos de pós-doutoramento sobre as representações da cultura africana dentro das narrações cordelistas. “Nessa pesquisa, visitei 27 acervos no país e verifiquei que aqui, em Caicó, há uma produção pungente, mas que não tinha um espaço. A Cordelteca vem ocupar justamente esse lugar, propício, também, para a pesquisa, pois enxergamos a literatura de cordel como um documento, que permite a compreensão e apreensão da história, através do tempo e do espaço”, colocou Lourival Júnior. Ele acrescentou ainda que a proposta é utilizar as narrativas do cordel de maneira similar à forma que aproveita o conhecimento advindo dos estudos dos romances clássicos.
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O raciocínio encontra amparo na reflexão do homenageado Djalma Mota, para quem a inauguração é também um reconhecimento da Universidade à importância do cordel. “Essa oportunidade de trazer o cordel para a Universidade é ímpar para a Instituição, pois cada cordel é uma leitura diferente que se faz. É trazer todo esse conteúdo histórico de quem está escrevendo, dos poetas e de sua observação. E trazer para Universidade, por meio desse material, suas vivências.” O poeta reconhece no projeto uma oportunidade para que os alunos e a sociedade, de modo geral, possam conhecer e fazer sua releitura do que foi escrito na literatura de cordel ao longo dos anos. O acervo da Cordelteca da UFRN será composto por doações e ficará aberto à visitação pública.
Depois da inauguração da Cordelteca da UFRN Poeta Djalma Mota aconteceu a palestra de abertura da I Jornada de História dos Sertões, proferida pelo Presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva. O objetivo do evento é a discussão de temáticas ligadas ao projeto, com apresentação de resultados parciais de projetos de pesquisa. A Jornada será encerrada no dia 14 de dezembro com a palestra “Um sertão entre tantos outros: fazendas de gado nas Ribeiras do Norte”, com a palestrante Nathália Maria Montenegro Diniz, doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). A programação completa do evento pode ser acessada em http://historiadossertoes.wixsite.com/jornada/programacao.
Fonte: https://sistemas.ufrn.br/portal/PT/imprensa/boletim_especial/20712852